Por Fernando Mello Figueiredo
As duas históricas atletas que se tornaram as primeiras mulheres da história a representar a Arábia Saudita em Jogos Olímpicos têm sido ignoradas pela mídia do país e expostas a uma campanha de ódio.
Sarah Attar correu nos 800 metros na pista do Estádio Olímpico e Wojdan Shaherkani competiu no judô nos Jogos, depois que o governo saudita aliviou a postura sobre mulheres competirem no esporte, pressionado pela comunidade internacional. Attar terminou em último em sua eliminatória e Shaherkani perdeu em sua primeira luta, mas as duas receberam enorme destaque mundo afora. No entanto, na Arábia Saudita, a abordagem foi bem diferente.
"Nós fomos o único jornal a escrever sobre isso", disse Hahled Al-Maeena, editor da "Saudi Gazette", publicação em inglês, por telefone, ao Yahoo! Esportes EUA. "Eu acredito que essas meninas são heroínas, e nós deveríamos celebrar, como nação. Infelizmente, outras pessoas não acham isso".
Uma campanha ameaçadora no Twitter, com a hashtag "prostitutas das Olimpíadas", começou na Arábia Saudita e foi usada para criar um ódio sexista contra as atletas.
O pai da judoca Shaherkani foi tão bombardeado que entrou em contato com o ministro do interior do país para pedir uma ação contra aqueles que insultaram sua filha. Sob a lei saudita, a punição por insultar a honra e a integridade da mulher pode chegar a mais de 100 chicotadas.
Attar e Shaherkani foram adicionadas depois na delegação saudita e não tinham classificação para os Jogos, mas foram aceitas nas modalidades em Londres sob uma regra do Comitê Olímpico Internacional, que procura estimular a participação de atletas de países restritos.
Ainda que forçadas a serem acompanhadas pelos seus parceiros na Cerimônia de Abertura, a presença das atletas foi vista como um passo na direção certa pelos direitos das mulheres, em um país onde lhes são negados muitos dos direitos humanos básicos em outras nações.
Porém, há um ceticismo sobre as verdadeiras razões da decisão em permitir Attar, uma saudita-americana que estudou na Universidade de Pepperdine, e Shaherkani competir.
"Eles permitiram a elas competirem por uma única razão. Se você não envia mulheres, então, no futuro, a seu país não será permitido participar (nos Jogos). Foi uma coisa maravilhosa de ver as meninas participarem, e motivo de orgulho para muitas pessoas, mas houve um motivo para isso acontecer. Eu acredito na livre imprensa, mas houve um fator político usado e isso foi triste", disse Al-Maeena
A "Saudi Gazette" recebeu críticas de extremistas por exaltar as atletas. Ao mesmo tempo, todo jornal de língua árabe dedicou extensa cobertura à medalha de bronze conquistada pelo time saudita do adestramento, no hipismo, liderado pelo Príncipe Abdullah al Saud.
Attar e Shaherkani não falaram com os repórteres depois de suas disputas nas Olimpíadas. Espera-se que as participações delas possa pavimentar o caminho para mais atletas de países como a Arábia Saudita, Qatar e Brunei, as três únicas nações a não mandarem mulheres em Pequim, quatro anos atrás. Os três tiveram atletas mulheres nestes Jogos.
Porém, ainda existem certas restrições culturais em lugares como a Arábia Saudita que podem atrapalhar no progresso de atletas mulheres. A filha de Al-Maeena, Lina, fundou um time de basquete que viajou para a Jordânia para competir, mas têm recebido muitas críticas pesadas.
"Não é fácil para uma mulher praticar esporte", disse Lina Al-Maeena, que pediu ao COI para que seu time representasse a Arábia Saudita em Londres, mas foi rejeitada.
"Os extremistas disseram que nos não estávamos agindo como mulheres deveriam agir, que éramos erradas, imorais e desrespeitosas. Nós só queremos jogar o esporte que amamos e possibilitar a outras mulheres a competirem. Os extremistas têm sua própria visão e é muito difícil mudar a sua visão".
O representant do Comitê Olímpico da Arábia Saudita não respondeu às perguntas enviadas na sexta-feira, sobre Attar e Shaherkani.
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