Por Erich Beting
“Boa noite a todos, e um abraço especial ao Paulo Nobre. Parabéns pela rede de lojas. Agora só falta time, né presidente”? A indagação bem provocativa foi feita por Marcos Kleine, guitarrista e torcedor palmeirense, na festa de inauguração da nova loja do clube.
A tônica tem sido essa desde que Paulo Nobre assumiu a cadeira de presidente do clube, no dia 21 de janeiro. Já naquele dia, como coloquei aqui no blog, o dirigente pareceu muito coerente em suas afirmações. Passadas apenas duas semanas de gestão, a pressão é cada vez maior sobre o novo mandatário do Palmeiras. Não basta tentar colocar a casa em ordem, é preciso contratar!
Claramente, porém, Nobre rema contra a maré de irresponsabilidade que jogou o Palmeiras por duas vezes na Série B nos últimos dez anos. Como o próprio presidente disse, a mais difícil tarefa dele no cargo é deixar o lado torcedor de lado e pensar no futuro do Palmeiras. Antes de pensar em reforçar o time, é preciso colocar a casa em pé.
Desde a “exuberância irracional” de Luiz Gonzaga Belluzzo, em que o clube gastou muito mais do que devia em busca do título que não veio, passando pela atrapalhada gestão de Arnaldo Tirone, o Palmeiras se deteriorou. Está em descrédito no mercado. Para jogar no clube, só com muito dinheiro. Pressão de torcida, de dirigentes, da mídia… Tudo colabora para o jogador não querer desembarcar no clube.
Por isso mesmo, a primeira coisa que Nobre fez foi blindar o time de futebol. Com José Carlos Brunoro tendo carta-branca, a influência dos conselheiros ficou menor. Brunoro é um político extremamente habilidoso e já viveu situação muito parecida em 1992 quando assumiu pela primeira vez a gerência de futebol do clube. Sua presença ajuda a resgatar a credibilidade do futebol palmeirense para o mercado, além de acalmar a torcida.
O segundo passo, mais lento, é colocar a casa em ordem. Organizar as finanças, planejar o futuro e impedir que o clube escoe pelo ralo da irracionalidade como foi nos últimos tempos. É a tal forma de “pensar na instituição primeiro”, como perfeitamente definiu Paulo Nobre em entrevista outro dia.
Recentemente, no programa “Mesa Redonda”, Brunoro afirmou que a verba que existe hoje no clube é mais do que aquela que ele dispunha no período da Parmalat, o que justificaria não ser difícil trabalhar dentro da realidade atual. O problema é que o futebol de hoje é muito mais competitivo, financeiramente, do que o da época em que só havia a vaca gorda da Parmalat.
Por isso mesmo, o Palmeiras não consegue mais sair contratando como naqueles tempos. Não é falta de “ousadia” dos novos dirigentes, mas sim a nova realidade em que o futebol está. O grande erro de Nobre seria, hoje, empenhar mais dinheiro do que pode apenas para agradar os torcedores mais afoitos e a própria cobrança da mídia.
Nobre é, depois de quase um século de história, o primeiro presidente do Palmeiras que de fato não comete loucuras como seria comum a um torcedor, mas pensa no bem do clube em primeiro lugar. Foi com esse tipo de pensamento que Corinthians e Santos se reergueram no passado recente.
De nada adianta contratar jogadores para tentar se consagrar em dois anos de gestão se o clube continuar com os mesmos problemas de sempre. Paulo Nobre segue a linha de reestruturação que tem sido a tônica em diversos clubes que despontam na vanguarda do futebol brasileiro atual.
A aparente frieza que a nova diretoria palmeirense demonstra é fundamental para arrumar a casa no futuro. Só que ela não pode contaminar outra área fundamental para a mudança de patamar do clube, que é o marketing. Já começa a ficar complicado para o Palmeiras seguir sem dialogar com seu torcedor. A grande diferença do ressurgimento dos grandes clubes nos últimos anos para agora é exatamente esse. O marketing foi uma das alavancas do clube, enquanto a montagem do time ficou num segundo plano.
Força, Paulo Nobre! O caminho traçado para o futebol já está definido. Só não dá para o marketing continuar adormecido…
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