quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Olímpicas 6: para CBF, clubes que não montam times femininos de futebol têm que fazer sua parte

Por Mauro Cezar Pereira

Marta & Companhia estão em alta. As mulheres que formam a seleção brasileira de futebol têm lotado os estádios onde jogam e sido elogiadas, contam com a simpatia do torcedor e alcançam visibilidade inédita para a modalidade no país. Mas e depois dos Jogos Olímpicos, a carruagem vai virar abóbora? O sonho irá acabar?
Afinal, o que está sendo feito e o que mais pode ser providenciado para aproveitar o momento? O blog entrevistou Marco Aurélio Cunha, coordenador de Futebol Feminino da CBF, que fala sobre planos e dificuldades enfrentadas e cita o desinteresse dos clubes mais tradicionais, que em maioria sequer têm times formados por mulheres.

Foto: Divulgação / CBF
Marco Aurélio Cunha, coordenador de Futebol Feminino da CBF: clubes não têm times
Existem possibilidades reais de a CBF criar um torneio sério de Futebol Feminino, caso o as meninas conquistem o ouro, pontos corridos, calendário ano inteiro?

Marco Aurélio Cunha: Sempre desejamos isso. Na TV aberta? Na fechada? Quem paga viagens com tantos jogos? Os clubes estão dispostos? Meu São Paulo não tem time feminino. O Flamengo é a Marinha. Primeiro os clubes têm que fazer sua parte.



Em suma, embora o Profut cobre, os clubes não montam times femininos e por isso a CBF não faz um calendário longo?
Marco Aurélio Cunha: O Profut não obriga a ter times disputando campeonatos profissionais e sim em " fomentar " a modalidade, ou seja, escolinhas e base. Poderia ser mais exigente.
Hoje quantas equipes adultas estariam aptas a disputar um campeonato brasileiro pelo ano todo, como no masculino?
Marco Aurélio Cunha: Nem 10 nesses moldes, pagando custos. Nosso campeonato, por fases de classificação tem 20 times. E menos jogos por isso.
É inviável um calendário mais longo pela pequena quantidade de times?
Marco Aurélio Cunha: Viável é sim. Teríamos que estimular e subsidiar como é feito, mas em maior volume financeiro. A Caixa Econômica dá 10 milhões para o Campeonato via Sport Promotion.
Por que?
Marco Aurélio Cunha: Porque tem os direitos do campeonato. Ninguém queria no passado da CBF e eles fazem.
Você luta para o campeonato ficar sob a batuta da CBF, certo? Acontecendo, quais seriam as medidas mais imediatas viáveis, aproveitando o momento olímpico e a visibilidade que proporciona?
Marco Aurélio Cunha: Eles fazem bem, mas têm seus limites e interesses legítimos. 
Eu prefiro que num breve futuro sejamos capazes de fazer. Mas temos que respeitar.

O que pôde acontecerá de positivo no curto prazo em função dos jogos olímpicos?
Marco Aurélio Cunha: Difícil falar agora. O ganho visual da modalidade foi fundamental. Depois da Olimpíada vão todas para o exterior. É criar um novo ciclo olímpico com as mais jovens e manter o trabalho estruturando base e cobrando dos clubes sua participação.
O que acontecerá com as meninas que saíram de seus clubes para, pelo menos momentaneamente, integrar a seleção permanente?
Marco Aurélio Cunha: Elas todas já estão se acertando com clubes de fora. As que ficarem manteremos treinando com as Sub-20 ou jogando em clubes do Brasil. É preciso saber o que elas vão fazer, temos já acertado um amistoso com a seleção francesa em setembro, na França, o torneio de fim de ano em Manaus. Temos agenda em datas Fifa.


As cinco atletas da seleção permanente deverão sair do país?
Marco Aurélio Cunha: Foram encontrando propostas interessantes a partir de março e saindo. Isso deve ocorrer novamente. Talvez com as goleiras não. Outras se acertam com clubes do Brasil. A seleção pode ser permanente, as atletas não.
Elas não ficarão sem mercado, quem não for para o exterior e ficar sem clube aqui no Brasil segue na seleção permanente?
Marco Aurélio Cunha: Essa é a ideia aprovada. Tem uma que rompeu o tendão de Aquiles pelo Iranduba de Manaus e está sendo tratada em São Paulo, onde foi operada em apartamento alugado pela CBF, recebendo salários e diárias como as convocadas, chama se Thayla, zagueira. É assim que eu trabalho. Aconteceu com a Bruna Benites e com a Debinha, que hoje estão na Olimpíada. Lesão de cruzado anterior. Tratadas nesse mesmo procedimento e hoje reabilitadas e jogando na seleção permanente. Bruna me disse que após Olimpíada irá para a Noruega. Olha o que a seleção permanente proporcionou a ela.
A CBF arrecada bem com o futebol masculino, parte dessa verba subsidia o feminino, certo? O que mais a confederação pode e pretende fazer?
Marco Aurélio Cunha: Acho que ela pode estimular campeonatos, torneios, fazer como está fazendo. Temos duas seleções classificadas nos mundiais Sub-17, em setembro e outubro na Jordânia; e Sub-20 na Papua Nova Guiné, em novembro. E estão indo aos Estados Unidos, a Sub-17 fez dois jogos com a seleção americana há alguns dias, 2 a 2 e 1 a 1 em Chicago. A Sub-20 vai para um torneio em Los Angeles, todos preparatórios para os Mundiais. Todos os custos, passagens, pagos pela CBF.

Foto: Getty Images
Marta: carisma junto ao público na Rio 2016 dá inédita visibilidade ao futebol feminino
A CBF deixou de cumprir promessas, com jogadoras sem carteira assinada e benefícios?
Marco Aurélio Cunha: É só perguntar para as que estão na seleção. A CBF propôs, houve um questionamento se não perderiam o Bolsa Atleta pelo registro. Depois de recolhidas as carteiras e feito um estudo jurídico sobre o assunto, que era inédito. Por isso demorou, a própria Suntaque (goleira), quando eu não ainda não estava na CBF; veio comunicar que não queriam mais o registro por receio de perder a Bolsa Atleta. Agora vem com isso porque, já veterana, perdeu espaço na Seleção.
Algum contato com os clubes foi ou será feito para que montem mais times femininos e a modalidade cresça?
Marco Aurélio Cunha: A todo momento conversamos com presidentes de federações para que incentivem estaduais da modalidade, campeonatos Sub-20 e Su-17. Eles estão estimulados a fazer. O problema é o custeio dos clubes, almoço, viagem e hotel custam caro. E as distâncias, enormes. O problema está aí, além dos campos, vestiário, material esportivo, alojamentos...
Não seria razoável regionalizar competições? Pela logística?
Marco Aurélio Cunha: Ela já é regionalizada, o que faz diminuir o número de jogos. Mas todos querem enfrentar os times do Sudeste, até para apresentar suas jogadoras. O grande futebol feminino está em São Paulo. Regionalizado totalmente perdemos bons times no início da fase eliminatória e não conhecemos revelações de longe.
A televisão mostra quantos jogos aproximadamente?
Marco Aurélio Cunha: A TV Brasil, acordo do governo com a Sport Promotion. Neste último campeonato pedi a todas fechadas e consegui com a Sportv, que passou alguns jogos e as finais. Já foi bom.
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