Por Mauro Cezar Pereira
Em seus tempos de rádio, Kléber Leite, flamenguista assumido desde sempre, costumava dizer que "ninguém é filho de chocadeira". Era uma maneira de lembrar que todos na imprensa esportiva têm suas cores, uma história de torcedor.
Nasci em Niterói (RJ). Uma conclusão quase óbvia é meu time de infância ser carioca. Repórter, cobri os quatro grandes do Rio de Janeiro. Houve um clube onde os dirigentes não gostavam nem um pouco de minhas matérias. Aos colegas perguntavam pra quem torcia quando liam o que os desagradava. Ao ouvir a resposta, duvidavam.
Isso me deixava orgulhoso, sinal de que estava separando bem trabalho e minha história de arquibancada. Nem poderia dizer que estava sabendo isolar sentimento e jornalismo porque minha profissão é uma grande paixão, ela sempre fica acima.
É como ganho a vida e distorcer os fatos não passaria de tolice, que não faria o pênalti perdido entrar ou o goleiro defender a bola que foi às redes. E não estaria sendo honesto comigo mesmo, menos ainda com quem nos acompanha, lê, ouve.
Há colegas que dizem para quem torcem quando perguntados, outros declaram abertamente e tem quem não revele nem sob tortura. Não costumo falar sobre isso por achar irrelevante no exercício de minha profissão. Qual a importância disso, afinal?
Desde 2004 na ESPN, sempre mantive tal posição. Não se trata de "esconder", "não assumir", "disfarçar". Só não acho importante. Se um jogador nasce torcedor de um time e mais tarde defende o rival ele é "profissional". Por que jornalistas não podem ser?
Afirmo que não há torcida de time grande que jamais tenha se irritado com meus comentários e textos nesses 12 anos, o que encaro como parte da missão. Duro é o comentarista não despertar reações, ser ignorado por não dizer nada.
Há casos em que, depois, voltam atrás e até concordam comigo. Em outros isso não acontece, inclusive porque o futebol mexe com os corações e vivemos tempos de intolerância com qualquer opinião que não se pareça com as das pessoas.
Gostaria de ir mais vezes a estádios, mas nem sempre é possível, pois geralmente trabalhamos durante as rodadas. Mas quando dá, lá estou. Não sou e jamais serei o tal "jornalista de ar condicionado". E levo a sério a máxima "não quero cadeira numerada". E por aparições na arquibancada, tenho sido "acusado" de torcer pelo Flamengo.
Alguns tentam me rotular como "tendencioso". Generoso que sou, para facilitar o entendimento elaborei uma listinha (abaixo) com alguns textos meus e vídeos. Os comentários não seriam chancelados pela assessoria de imprensa rubro-negra.
Se depois de ler e ouvir alguém insistir em tal tese, paciência. Apenas respeitarei o direito que as pessoas têm de parecerem idiotas. Pois em 2016 o Pacaembu virou "Maracanã", ficou parecido com meu velho habitat. Lá estive e continuarei indo.
Patrulha alguma vai me tirar tal direito. Ainda mais de quem me "condena", mas aplaude JORNALISTAS que torcem pelos SEUS times e vibram quando os mesmos são vistos e/ou fotografados no meio de SUAS torcidas. Tacanho, não?
Gente que age assim é tão patética que esquece o óbvio: pagam para ver jogadores que jamais torceram por seus clubes. Que vestem a camisa tão amada pelo dinheiro. Sim, por dinheiro. É como funciona o futebol profissional.
Mas querem patrulhar jornalistas pelo histórico de torcedor. Se preocupam com isso como se fosse revelante, mas ficam incomodadinhos ao saberem que o comentarista — que NÃO é pago pelo clube — não torce para o time DELE. Como se os jogadores torcessem! Ah ah. Deve ser preciso fazer força para alcançar tal nível de estupidez.
Nunca ganhei um centavo de clube de futebol. Jamais prestei serviços a qualquer agremiação. Em meus 33 anos de jornalismo, dentro ou fora do esporte, sempre recebi minha remuneração das empresas para as quais trabalhei e trabalho.
Não é meu objetivo, amo o que faço, mas se um dia atuar profissionalmente em um clube, seja qual for, serei assessor de imprensa ou algo do gênero. Não acumularei funções em veículos de comunicação, pois é absolutamente incompatível.
Seguirei do lado de cá do balcão, e num dia de folga, posso aparecer numa arquibancada. Pagando pelo ingresso, como você. Aqui ou na Argentina, onde existe um time que, pela sua incomparável torcida, me cativou há mais de duas décadas.
Minha filha torce pelo Palmeiras. Quando mais nova, a levei muitas vezes ao Palestra Itália. Lá, compartilhávamos a paixão pelo futebol. Quando o clube completou 100 anos, escrevi, de coração, um texto em homenagem — clique aqui e confira.
Muitos que leram me perguntaram qual era o adversário da Academia — assim chamada, como o querido Racing Club — comandada por Ademir da Guia naquela noite no Maracanã. Já que desejam tanto saber... Ora, ele vestia vermelho e preto.
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