Foto: Fabrizio Bensch/Reuters |
Por uol.esportes.com
O pênalti desperdiçado por Daiane acabou com o sonho da conquista inédita da Copa do Mundo e recolocou as jogadoras da seleção brasileira de volta à dura realidade do futebol feminino no país. Sem o título, a modalidade deve continuar enfrentando todas as dificuldades de ser semi-profissional, seguindo sem um calendário de competições fixo, com poucos investidores e marginalizada pela própria CBF.
A entidade que comanda o futebol brasileiro fez investimentos para a Copa do Mundo e, segundo pessoas ligadas à seleção, distribuiria parte dos US$ 4 milhões que serão recebidos pelo campeão para jogadoras e comissão técnica como incentivo. A queda precoce, no entanto, deixou as participantes do Mundial apenas com as diárias de US$ 70 que a entidade disponibilizou para cada uma.
Para a preparação, a CBF acomodou as jogadoras por mais de um mês na Granja Comary, espaço que até o ano passado foi usado pelo time masculino. A equipe, no entanto, realizou apenas dois amistosos, um deles contra um combinado de Pernambuco, e chegou ao Mundial com uma das piores preparações entre os rivais.
Apesar de toda a dedicação demonstrada durante o Mundial, a situação do futebol feminino brasileiro comparado a de outros países, como o próprio Estados Unidos, algoz no jogo do último domingo, é vergonhosa. Enquanto as norte-americanas recebem tratamento especial e são moldadas desde as categorias de base, as atletas no Brasil mal conseguem arrumar um time para jogar, como é o caso da titular Formiga, que voltará a ficar desempregada após o Mundial.
Essa situação, por sinal, foi um dos pontos que mais intrigou a imprensa estrangeira que acompanhava os jogos da seleção. Em todas as coletivas, atletas ou o técnico Kleiton Lima tiveram de responder como era possível a equipe realizar uma boa campanha até então e não ter sequer um grande campeonato estabelecido no país.
Sem uma liga forte, a renovação da seleção também é complicada. Apesar de convocar algumas jogadoras mais jovens, quase que a totalidade da equipe titular de Kleiton Lima foi formada por atletas que já haviam disputado a Copa do Mundo de 2007. Agora, com a média de idade desse time próxima dos 30 anos, a reformulação será obrigatória.
A última chance para esse time conquistar um grande título talvez seja a medalha olímpica nos Jogos de Londres, em 2012. A tendência é que esse mesmo grupo de atletas vá à Inglaterra e, novamente, comandado pelo técnico Kleiton Lima. Mesmo recebendo uma sondagem para assumir um time dos Estados Unidos antes do Mundial, o treinador afirmou que seguirá à frente da seleção.
Agora, após acordarem do sonho de disputar uma Copa do Mundo, as jogadoras da seleção voltam à realidade nesta segunda-feira, quando iniciam a viagem para casa. Se a frustração pela derrota será grande, o fato de não conseguir transformar um eventual título em um impulso para a modalidade no país será ainda pior, como revelou a capitã Aline Pellegrino, em entrevista ao UOL Esporte, durante a disputa do Mundial.
“Não brigamos para ter o mesmo salário ou visibilidade do futebol masculino, mas sim um espaço devido para o feminino. Não vai ser igual ao vôlei, mas acho que podemos colocar a modalidade em um patamar muito mais alto que está. Queremos ter o nosso espaço, sermos profissionais, termos nossa liga, nosso Campeonato Brasileiro, um calendário, condições de assinar um contrato profissional, de ter uma carteira assinada, ter direitos, e é por isso que brigamos”, sintetizou a zagueira.
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