Por Graça Magalhães (em: 02/07)
Aberta no último domingo, com vitória da Alemanha sobre o Canadá por 2 a 1, a Copa do Mundo Feminina de Futebol ganha lentamente popularidade. Em Berlim, o prefeito Klaus Wowereit se manifestou favorável à instalação de um telão junto ao Portão de Brandenburgo, no coração da cidade, o que fez da Copa (masculina) de 2006 uma grande festa de rua. A ideia é repetir a manifestação ao menos nos jogos finais do torneio. O que há cinco anos era uma evidência desde o primeiro dia da Copa, hoje divide a opinião pública entre o apoio exagerado e a rejeição. Embora o futebol feminino comece a ser descoberto pelas agências de publicidade, ainda é acompanhado de certo preconceito.Manifestações machistas
O ex-jogador nacional Mario Basler aconselhou as jogadoras a praticarem tênis, uma forma de esporte mais graciosa e menos masculina do que o futebol, e apelou às equipes participantes a não estragarem "os gramados dos nossos estádios". Já o piloto da Fórmula-1 Nico Rosberg, politicamente incorreto, comparou o futebol das mulheres com as paraolimpíadas, que também seriam interessantes, uma forma de preconceito duplo, contra as mulheres e contra os deficientes. Depois, Rosberg afirmou ser admirador da seleção alemã.
Apesar das tentativas dos dois canais públicos de TV e da federação alemã de mostrar a atual Copa como uma "lenda de verão revisitada", o torneio é visto com uma mistura de curiosidade e tédio. O comentarista do jogo de abertura, Michael Antwerpes, chegou a dizer que "o futebol é divertido embora seja apenas a Copa das mulheres".
O mar de bandeirinhas das nações participantes, visto com frequência na última Copa, não foi registrado em nenhuma das sedes do torneio. O grau de entusiasmo nas ruas está apenas um pouco acima de zero, embora os ingressos para a partida de abertura e para os jogos dos favoritos tenham sido bem vendidos. Alguns jogos são realizados em estádios quase desertos. A ex-jogadora Bärbel Wohlleben, que teve o auge da sua carreira nos anos 70, bem antes da primeira Copa feminina, em 1991, já vê uma evolução:
- Antigamente, uma mulher que jogava futebol tinha receio de ser vista como masculina, uma mulher-homem.
O clichê da jogadora masculinizada persiste. A treinadora da Nigéria, Ngozi Uche, afirmou ter expulsado todas as lésbicas do time. Para provar o contrário, cinco jogadoras alemãs posaram nuas para a revista "Playboy". O jornal de massa "Bild", antigo porta-voz dos machistas, escreveu admirado: "Futebol é agora sexy".
Para o jornalista Jacob Augstein, filho do fundador da revista "Der Spiegel", a Copa vem sendo "instrumentalizada" pelas organizações públicas como incentivo à emancipação feminina em um país que é governado pela chanceler Angela Merkel, embora apenas 2,35% das 200 maiores empresas sejam comandadas por mulheres. Apesar dos preconceitos, o torneio foi descoberto pelas grandes empresas como uma fonte de lucro a começar pelos álbuns de figurinhas, que também na Copa feminina, são colecionados principalmente por meninos.Liberdade e autoestima
Para Bärbel Wohlleben, o crescimento do futebol feminino é acompanhado de sua comercialização. Grandes times alemães como o Turbine Potsdam, fundado no leste alemão ainda durante a era do comunismo, o FCR Duisburg e o FFC Frankfurt, tornaram a modalidade mais rentável e atrativa para jovens jogadoras.
Bicampeã mundial e hepta europeia, a Alemanha tem 14 mil times femininos, sendo muitos amadores. Mesmo nos três melhores as jogadoras ganham pouco, muito menos do que dos homens.
De acordo com a Fifa, 26 milhões de mulheres do mundo inteiro jogam futebol contra 239 milhões de homens. Heather Cameron, professora da Universidade Livre de Berlim, disse que em muitos países o futebol é a melhor forma de emancipação, como no Afeganistão, onde ainda hoje, dez anos após a queda do talibã, as mulheres ainda são oprimidas.
-- Futebol é para as mulheres uma forma de aumentar a autoestima - disse.
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