A renúncia de Ricardo Teixeira à presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) não empolgou nem entristeceu a maioria das jogadoras da Seleção feminina. Acostumadas às condições adversas de trabalho, as atletas não têm motivos para apostar em uma melhora significativa em seu departamento após a efetivação de José Maria Marin como novo mandatário da entidade.
“Continuará tudo igual”, avisou a zagueira Alline Calandrini, a Calan, que passou por uma cirurgia no joelho há seis meses, perdeu espaço e não tem mais esperanças de disputar as Olimpíadas de Londres. “O novo presidente mesmo falou que só daria continuidade ao trabalho do Teixeira. Não foi uma chapa diferente que assumiu. Por isso, não espero muita coisa dele. Se tiver uma atenção maior ao futebol feminino, ótimo. Mas não acredito nisso”, completou, cabisbaixa.
A manhã da segunda-feira, contudo, era de alegria para Calan e nove de suas companheiras que haviam ficado desempregadas com a extinção do time de futebol feminino do Santos. Elas foram apresentadas como reforços do Centro Olímpico, com apoio da Prefeitura de São Paulo e até de empresas cariocas, em um projeto que pretende dar sustentação à Seleção Brasileira.
Um das estrelas da nova equipe do Centro Olímpico, a atacante Érika tentou ser comedida quando subiu no palco e falou publicamente sobre a troca de comando na CBF. “Tenho que agradecer ao Ricardo Teixeira pelo que proporcionou ao futebol feminino enquanto esteve ali”, disse, de maneira protocolar. “Agora é acreditar. Não cabe a mim nem a nenhuma jogadora dizer se a saída dele foi boa ou não. É difícil falar, pois a gente só espera a ajuda dos dirigentes, sem poder fazer muita coisa.”
Não demorou muito, contudo, para Érika também deixar transparecer a sua dúvida em relação às melhorias na Seleção Brasileira feminina. “A gente vai precisar ter um pouco mais de contato com o novo presidente. Se ele der oportunidade, poderemos usufruir da estrutura de uma maneira boa. Por que não? Agora, se ele não gostar de futebol feminino, será complicado”, afirmou, com uma expressão de quem já está habituada à hipótese pessimista.
Com outras preocupações no momento, José Maria Marin ainda é desconhecido das atletas da Seleção. Ex-jogador do São Paulo, o dirigente de 79 anos também já foi governador do Estado por cerca de um ano, quando Paulo Maluf pediu licença para se candidatar a deputado federal, em 1982. Mais recentemente, ficou conhecido por embolsar a medalha que seria destinada ao goleiro Matheus Caldeira, do Corinthians, durante a festa de premiação aos últimos campeões da Copa São Paulo – uma cortesia da Federação Paulista de Futebol (FPF), segundo ele.
“Queremos conhecer esse novo presidente. Nunca tinha ouvido falar dele antes. Espero que nos ajude da melhor forma possível. Ficamos na expectativa”, disse a lateral Maurine, timidamente. “De todas as formas, é uma nova pessoa ali dentro da CBF. Vamos tentar acreditar que as coisas boas acontecerão”, acrescentou Érika.
As jogadoras têm seus motivos para questionar os rumos da Seleção Brasileira feminina. Não era incomum elas cederem espaço na Granja Comary até para as categorias de base dos times masculino. Os atrasos nos pagamentos de premiações também incomodaram algumas delas. As campeãs sul-americanas de novembro de 2010, por exemplo, só receberam os quase R$ 4 mil por esse título em junho de 2011, na véspera da convocação para o Mundial.
Com a extinção do Santos e de outras equipes femininas, a preparação das atletas em ano olímpico também foi prejudicada. “Sem dúvida. A indefinição é horrível. A gente acaba treinando só na Seleção, sem ter nem outros times para enfrentar”, lastimou Érika, feliz, porém, com o fato de ter passado a contar com modernos testes físicos e clínicos oferecidos pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB). “Com isso, eles sabem exatamente o que as atletas podem doar, o que comer, como não se cansar. Estamos melhorando”, sorriu Maurine.
Nenhum comentário:
Postar um comentário