Reinaldo Canato / Folhapress |
Palmeiras campeão da Copa do Brasil: a coluna do Estadão de quinta
Por Paulo Vinícius Coelho
CICATRIZES DO TÍTULO
No dia seguinte ao jogo da classificação para a final da Copa do Brasil, o goleiro Bruno falou sobre a tensão de levar o primeiro gol do Grêmio e sobre como as derrotas do passado serviram de exemplo para chegar à vitória do presente: "Conversamos muito sobre a semifinal da Copa Sul-Americana de 2010, o 1 a 2 para o Goiás. Não poderíamos correr o risco de perder a vaga na final para o Grêmio, depois de vencer por 2 a 0 no Olímpico. Quando sofremos o gol, olhamos uns para os outros e, naquele instante, tive certeza de que estava tudo sob controle."
O Palmeiras levou só seis minutos para empatar com o Grêmio. O caráter do time campeão da Copa do Brasil formou-se na derrota e nos conflitos. Construiu-se com histórias, como a da bronca do diretor Wlademir Pescarmona, no vestiário do Centro de Treinamento, um dia depois do vexame contra o Goiás. Xingou a todos, de vagabundos para baixo, sob o olhar complacente de Felipão, por isso questionado pelo elenco nos meses seguintes.
Construiu-se também no episódio da saída de Kleber do Palmeiras, briga de foice no vestiário da Academia entre o atacante e o treinador. "Em vinte anos no Palmeiras, nunca vi nada tão grave", disse o então goleiro Marcos.
A discussão evidenciou a necessidade de se contratar um gerente de futebol, um anteparo entre o técnico e o elenco. Em seus melhores trabalhos, Felipão sempre teve esse escudo.
Luís Carlos Silveira Martins, o Cacalo, diretor de futebol, no Grêmio, Paulo Angioni, diretor de esportes da Parmalat, no Palmeiras.
Gente capaz de dividir os problemas e impedir a intervenção do treinador em todos os conflitos, como acontecia antes da chegada de César Sampaio, em novembro de 2011.
"O ambiente e o time melhoraram, também, porque alguns do contra não estão mais aqui", disse Luiz Felipe, na manhã de ontem, no saguão do hotel Pestana, em Curitiba.
O técnico se referia a Kleber, mas também a Lincoln, rival ontem, com a camisa do Coritiba.
Com a área limpa, Felipão pôde reconstruir sua família, como nos seus melhores trabalhos. Até o primeiro jogo das finais contra o Coritiba, houve quem cobrasse do Palmeiras um jogo mais trabalhado, mais bola no chão, menos dependente de bolas paradas.
Cobrava isso quem também dizia que Felipão mudou. Não, não. Ele é o mesmo sujeito teimoso, mas de coração mole e futebol duro, das outras três conquistas de Copa do Brasil.
Prova disso é o estilo rigoroso, sem beleza, sem sabor, com que o Palmeiras avançou. Seu time joga com os mesmos méritos e os defeitos de sempre das equipes montadas à moda Felipão. O gol de Vilmar, do título da Copa do Brasil de 1991, do Criciúma, o de Nildo, da conquista de 1994 pelo Grêmio, o de Oséas, Copa do Brasil 1998 do Palmeiras, todos nasceram de bolas paradas.
Nos doze anos do hiato entre a Libertadores 1999 e a Copa do Brasil 2012, quem mudou para pior foi o Palmeiras. Por isso, a Copa do Brasil, forjada no sofrimento e conquistada ao melhor estilo Scolari, deve ser muito comemorada. Também precisa ser encarada como o primeiro passo para o clube voltar a ser um dos mais vencedores do País.
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