Por Diário do Pará
Depois de voltar da Copa do Mundo na Alemanha, a jogadora baiana Miraílde Maciel Mota, a Formiga, radicada no Pará, conversou com o Bola sobre o seu início de carreira, futebol feminino, seleção brasileira e sobre o futuro, confira o bate-papo:
Bola - Como foi o seu início no futebol, o seu primeiro campeonato disputado?
Formiga - Bom, o início não foi muito fácil, a falta de estrutura do futebol feminino no Brasil prejudica a formação de atletas no país. Eu ainda morava em Salvador quando fui disputar o meu primeiro Campeonato Brasileiro na cidade de Capão de Canoas (RS). Eu tive essa oportunidade aos 15 anos, quando houve a fusão do time que eu jogava em Salvador com uma equipe em São Paulo, assim eu pude ir para um centro maior, até porque, naquela época, o futebol feminino só acontecia em São Paulo.
Bola - Com tantas dificuldades, ter que ir para outra cidade para ter oportunidade de disputar um campeonato relativamente competitivo, como foi para você ser convidada pela seleção brasileira de futebol feminino?
Formiga - Então, fui disputar o meu primeiro Campeonato Brasileiro em Capão da Canoas, no Rio Grande do Sul e fui a revelação daquele campeonato. A partir desse Brasileiro a minha vida começou a mudar. Aconteceu a minha primeira convocação, o meu primeiro Mundial aos 16 anos, e desde 1995 não saí mais da seleção, mesmo com as dificuldades que o futebol feminino tinha, até mesmo por não ter categorias de base, então era difícil qualquer atleta da minha idade, na época, chegar à seleção brasileira. E nesse momento eu tive a sorte e a benção de Deus para que eu conseguisse chegar à seleção.
Bola - E como é que foi para a Formiga vir parar aqui em Belém?
Formiga - Na verdade eu vim para Belém para disputar um campeonato pela equipe Espada. O dirigente fez o convite para eu vir conhecer Belém. Vim, conheci, gostei e foi onde eu encontrei uma família que me adotou. Me adaptei rápido por aqui ter um clima parecido com o de Salvador, então me encantei, essa família me convidou para passar várias festas de final de ano aqui, até quando eu vim passar um réveillon e acabei ficando.
Bola - E não ficaste com receio de que a sua vinda para o Pará fosse atrapalhar sua carreira?
Formiga – Bom, eu gosto de Belém, a minha vinda não atrapalhou em nada a minha vida no futebol, até porque eu tenho o meu contato em São Paulo. Muito pelo contrário, me ajudou bastante.
Bola - E o futebol feminino jogado aqui no Pará, existem jogadoras com potencial de um dia chegar onde você chegou?
Formiga - Com certeza, aqui eu sempre vejo uns jogos e tem meninas que realmente jogam futebol, mas apenas jogar não é suficiente, elas precisam de apoio. Não adianta elas saírem daqui e irem para o eixo Rio-São Paulo para fazer teste, porque como a cidade onde elas moram não dão um suporte, apoio, fica muito difícil a adaptação dessas meninas em outra cidade.
Bola - De 1995 pra os dias de hoje, tiveram muitas mudanças no futebol feminino, a Confederação Brasileira de Futebol vem cumprindo suas promessas de investimento?
Formiga - As mudanças no futebol feminino, desde que eu entrei, em 1995, foram bem poucas, eu falo em relação à entidade CBF. Hoje temos aí as categorias de base lá no Rio e São Paulo, mas o que adianta ter a base se não temos campeonatos regulares? Isso vem atrapalhar um pouco.
Bola - Em relação à seleção brasileira. É nítido que a seleção feminina tem enormes talentos, grandes jogadoras, mas parece que falta alguma coisa para você consigam superar certas adversárias nas fases mais agudas, o que você atribui essa ‘falha' nos momentos decisivos?
Formiga – Acostuma-se falar que no futebol brasileiro, tanto masculino quanto feminino, sempre tem aquela cochilada no final do jogo, que é onde a gente sempre acaba tomando o gol, você pode ver que é geral a desconcentração. Mas a culpa não fica apenas com as jogadoras. Se você tem uma cobertura forte, por trás, quando a gente entrasse em campo, se preocupasse apenas com o futebol, as coisas de fora não entrariam conosco em campo, eu acredito nisso.
Bola - E para o futuro, ainda pretendes jogar mais um Mundial? Quando parares, pretendes continuar no futebol, seguir a carreira de técnica?
Formiga - Em relação à seleção brasileira, este foi o meu último Mundial, apesar de ter participado de cinco Copas eu queria pelo menos uma, mas infelizmente não pude. Mas tem o ano que vem ainda, tem Olimpíada, Pan-Americano e um quadrangular (torneio) em São Paulo, então em relação à seleção eu pretendo largar depois das Olimpíadas, se eu for chamada, até porque eu terei 34 anos, daí não sei se vão querer, saúde e vontade eu tenho (rindo)! Agora, a respeito de eu ser treinadora, hoje sou treinadora da Alunorte Rain Florest, é uma oportunidade que a Alunorte me ofereceu e com certeza eu vou aproveitar. Até mesmo na seleção eu já falei com as meninas lá que eu um dia estarei com elas, só que na comissão técnica. Mas eu sei que a CBF não gosta de mulheres na comissão, o porquê eu não sei, mas eu vou procurar a batalhar por isso ou de outra maneira para ajudar o futebol feminino do nosso país.
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